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Descrição
AGULHA 04 — COLETÂNEAS Durante o período do higienização artística nazista na Segunda Guerra Mundial, jovens conhecidos como ‘swingjugend’ (‘juventude swing’) se reuniam em porões na Alemanha. Celebravam, noites adentro, a audição integral de vinis de ‘negermusik’ (termo depreciativo para ‘música negra’) americana — como swing, blues e jazz. Sem uma figura central oferecendo técnicas de mixagem estruturada, as pessoas se reuniam para festejar discos clandestinos em vitrolas e gramofones, com seus respectivos silêncios entre as músicas. Herança direta dos clubes de jazz americanos e da importação do ‘American Way of Life’, que inspirou movimentos Europa afora. Nos anos 1950, a mesma história ecoa em “Seu Osvaldo” [Pereira], fervoroso amante da ‘black music’ e reconhecido primeiro DJ do Brasil. Em um experimento de mixagem, ao juntar dois toca discos e suprimir o silêncio entre as transições, teve um efeito inesperado: o corpo de baile não podia trocar de pares e damas e cavalheiros eram obrigados a dançar com a mesma pessoa a noite toda. O feito foi tão rechaçado que, reza a lenda, aconteceu apenas uma vez. Em convergência com esses eventos, encontramos como ponto central a presença das coletâneas (ou compilações) em vinil, surgidas nas décadas de 30 e 40 como conjunto de sucessos musicais de diferentes artistas ou não, desafiando o sentido de um álbum musical, muitas vezes sequer assinadas por seus curadores. Seja por seu efeito de registro de músicas obscuras que foram apagadas da história ou por reunirem em uma única prensagem os maiores sucessos de diversos álbuns, as coletâneas ganharam um sentido de “minas de ouro” — garimpadas por DJs de discotecas e programas de rádio na década de 70. Ao longo das décadas, diversas coletâneas foram e continuam sendo assinadas por gravadoras e artistas. Algumas têm importância indiscutível — como as de Duke Ellington e Charlie Parker nos anos 40/50, os singles e lados B da Motown que deram vida aos bailes de Northern soul na Inglaterra, No New York (1978), assinada por John Cale, que fomentou a cena No Wave, e Short Circuit: Live at the Electric Circus (1978), primeiro registro da cena punk de Manchester. Outras alinhadas a uma pulsão comercial, que ao selecionar apenas alguns singles, subtrai o valor de músicas muitas vezes mal interpretadas enquanto lados B. Diante do surgimento do digital e sua radicalização com o ‘streaming’, a figura do curador musical (ou compilador) acabou sendo diluída pelas ‘playlists’, e hoje qualquer um pode fazer sua própria coletânea. A música enquanto protagonista e o seletor musical enquanto curador são o espírito e a forma resgatadas no cerne do Agulha. Nossa próxima edição, Coletâneas, explorará álbuns que reúnem músicas por escolha de ouvintes atentos, e não apenas de seus autores. Uma celebração aos curadores e compiladores em vinil que preservam, por décadas, músicas que jamais ouviríamos, nem em sonhos. Agulha - Edição Coletâneas 12/09/25, às 19h No Projeto Café Bar.