João Frade E João Silva

21H30 João Frade e João Silva - “Lugares” João Frade e João Silva juntam-se para nos propor intersecções e diálogos criativos entre acordeão e violino. Instrumentos plenos de dinâmica e envolvimento, que deambulam pelos universos do jazz, da improvisação, da música erudita, da tradição portuguesa e da world music para nos trazer um álbum que reflecte influências e latitudes de dois músicos que têm vindo a trilhar um relevante e reconhecido percurso no plano internacional. Um disco a quatro mãos que reafirma o virtuosismo técnico e a capacidade interpretativa de Frade e Silva, assim como uma evidente cumplicidade plasmada na feliz fusão tímbrica das sonoridades instrumentais apresentadas. Nos processos composicionais e arranjos, mormente nas dimensões harmónica e melódica, sublinhe-se a versátil conjugação e variação de papéis entre acordeão e violino, bem como o recurso ao contraponto musical. Soma-se ainda a exploração refrescante, no violino, de técnicas de arco e das potencialidades expressivas das duas mãos, sobretudo através do pizzicato e de outras certeiras modalidades dedilhadas e percutidas. De temas mais vibrantes, pulsionais e ritmados a paisagens sonoras mais contemplativas, intimistas e minimais em que a espacialidade e tensão violinísticas se aliam à densidade, em surdina, da máquina de vento (acordeão), este álbum não deixa também de instaurar, em vários momentos, uma atmosfera visual e cinemática que remete para frames do quotidiano social e convoca toda uma paleta emocional. Como se estivéssemos numa viagem imagética e interior, ao espelho, a ver desfilar a passagem das horas, o fluxo (líquido) dos dias. A única versão do disco – “Índios da Meia-Praia”, de José Afonso – ilustra bem, pelo cariz sensível e despojado do arranjo (ampliado pelos efeitos electrónicos introduzidos no acordeão), esse olhar musical que perscruta um tempo em suspensão e antigo (pós-25 de Abril a sul, em Lagos), que revisita uma memória afectiva e simbólica, a qual reverbera em nós como eco (nostálgico?) de uma vontade inabalável de construção colectiva.